segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Porque meus filhotes estão morrendo no ovo?


Todos os anos durante o período de reprodução sou procurado por criadores de diversas espécies de pássaros sempre com os mesmos problemas. Entre eles a baixa fertilidade dos reprodutores, morte de filhotes nos primeiros dias de vida e a baixa eclodibilidade dos filhotes (lembrando que é o filhote que eclode o ovo e não o ovo que eclode). Costumo dizer que daria pra escrever um livro sobre cada um destes temas, porem o tema que abordarei resumidamente neste artigo é “a morte embrionária” ou seja, aqueles casos em que o ovo esta “cheio”, porem o embrião não nasce. Existem muitas possíveis causas que justificam a morte embrionária e para melhor entendimento dividirei-as em 7 principais grupos de causas:

Causas genéticas
Geralmente estão relacionadas a gene letal, ou seja, alterações nos cromossomos que induzem a mau formações levando o embrião a morte.

Causas nutricionais
Estão relacionadas às deficiências de nutrientes importantes no desenvolvimento embrionário, como vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina D, acido fólico. Carência de cálcio, e também os excessos de nutrientes podem ser extremamente prejudiciais, como é o caso do selênio que em altas concentrações reduz a eclodibilidade alem de ser teratogênico.

Causas tóxicas
O uso de diversos produtos como desinfetantes e mesmo inseticidas para controle de piolhos podem ser tóxicos quando entram em contato com a casca dos ovos causando a morte dos embriões. Sempre quando desinfetamos ninhos e forros devemos estar atentos aos produtos utilizados, os ovos apresentam poros na casca que permite a passagem de agentes químicos para o interior dos mesmos. Portanto é desaconselhável a pratica de lavar ou aplicar produtos nos ovos de pássaros antes do choco, exceto em situações especiais com recomendação do médico Veterinário.

Causas relacionadas ao manejo
Muitas vezes temos o habito de tirar os ovos e colocá-los em recipientes com alpiste ou painço, pra voltá-los ao choco assim que a fêmea coloque o ultimo ovo, essa pratica visa o nascimento simultâneo da prole. No entanto a maneira que isto é feito pode prejudicar os embriões, por exemplo, mãos sujas ao manipular os ovos podem contaminá-los, vibrações excessivas, estocagem por tempo excessivo, alem do que, as sementes de alpiste ou painço são ricas em fungos e bactérias que podem também contaminar os ovos.

Causas ambientais
A temperatura e a umidade inadequadas dentro do criatório incorrem em distúrbios da eclodibilidade. Tanto as altas temperaturas quanto muito baixas podem alterar o tempo de choco ou mesmo desidratar os ovos causando a morte do embrião o mesmo acontece com a umidade. Esses fatores são de extrema importância aos criadores que recorrem a chocadeiras artificiais.

Causas comportamentais do casal reprodutor
Fator muito importante que quase não é considerado, freqüentemente pássaros inexperientes tem problemas durante o choco. Por exemplo, fêmeas que saem muito do ninho ou mesmo fêmeas que saem de menos do ninho. Também machos agressivos ou excessivamente “fogosos” que atacam as femeas durante o choco e muitas vezes provocam pequenas lesões na casca dos ovos que facilitam a contaminação ou ate a desidratação dos mesmos.

Causas infecciosas
Talvez seja o grupo mais importante, por essa razão o deixei por último. Nesse grupo podemos incluir as infecções fungicas geralmente relacionadas ao Aspergillus spp., as infecções virais causadas por paramyxovirus e Poliomavirus e finalmente as mais freqüentes causas, as bacterianas causadas por diversos gêneros como Salmonella spp., Escherichia coli, Micoplasma, Staphiloccocus, Strepyoccocus, Clamidophila psittaci e outros menos freqüentes. O diagnostico muitas vezes é difícil e deve se recorrer ao auxilio técnico de um profissional especializado, pois muitas vezes há a necessidade de exames de cultura e antiobiograma para identificar qual agente infeccioso é o causador de tal problema e qual a terapia mais adequada para sanar o problema. No mais cabe ao criador estar atento às dicas de manejo, cuidados profiláticos e ao manejo nutricional para prevenir que o plantel apresente taxas reduzidas de eclodibilidade, gerando prejuízos genéticos e econômicos. No que se refere as causas infecciosas é indispensável estar ciente de que não se deve utilizar antibióticos aleatoriamente visando a prevenção da morte embrionária, pois normalmente o prejuízo é bem maior, com o surgimento de bactérias selecionadas e super poderosas, e mesmo redução da fertilidade dos reprodutores ou até esterilidade, sem contar que antibióticos também tem efeitos tóxicos que podem induzir a teratogenia e morte do embrião. Portanto em casos de processos infecciosos o melhor é contar com ajuda profissional, procure sempre um veterinário especializado em pássaros para a realização dos exames adequados e tratamento correto.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

As cores do canário Gloster

Os canários Gloster são classificados em 9 cores, identificadas e julgadas pela cor de fundo do pássaro, sendo elas:


Fundo Branco
  • Fundo Branco Lipocrômico
  • Fundo Branco Pintado
  • Fundo Branco Melãnico


Fundo Amarelo Nevado
  • Fundo Amarelo Nevado Lipocrômico
  • Fundo Amarelo Nevado Pintado
  • Fundo Amarelo Nevado Melãnico


Fundo Amarelo Intenso
  • Fundo Amarelo Intenso Lipocrômico
  • Fundo Amarelo Intenso Pintado
  • Fundo Amarelo Intenso Melãnico





Como existem os consorte (sem topete) e corona (com topete), as categorias acima duplicam, acrecentando a classificação COM TOPETE, formando portanto 18 categorias, 9 sem topete E 9 com topete.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Registo do Plantel - Um Degrau Para a Melhoria



Qualquer bom criador, ou pelo menos dedicado, tem objetivos e sonhos, que passam por ter um bom aviário, bom plantel e o mais importante que este seja saudável e produtor de bons resultados.
Para que estes objetivos sejam atingidos, são necessários vários requisitos: dedicar muitas horas do seu tempo ao viveiro, investir algum dinheiro (em equipamentos, alimentos, vitaminas, mão-de-obra, ou em novas aves), muita dedicação, muita paixão, não olhar para o lado comercial, etc.
Mas muitas vezes, mesmo seguindo todos estes requisitos, observamos ainda assim o insucesso.
Muitos criadores, ao colher os insucessos, contabilizam os prejuízos mas seguem ano após ano, essa atividade inglória.

Quando são questionados, o argumento é de que a avicultura desportiva é mesmo assim, mais sujeita ao insucesso que a vitórias. Outros acabam mesmo por abandonar a atividade desiludidos e frustrados, culpando a sua má sorte ao “mau olhado do vizinho”, pois muitas vezes sentem-se enganados, pela sua pouca experiência não ser acompanhada da melhor forma pelos amigos.

Será que estes insucessos não passarão simplesmente por uma organização mais cuidadosa de seu plantel?
Penso que sim, pois se dedicamos muito do nosso tempo, se gastamos muito dinheiro, se temos boas aves e não lhes faltamos com nada; falta qualquer coisa que pode ser apenas, a simples organização escrita do plantel, ou seja os registos de tudo o que se passa durante todo o ano. Aí de certeza vamos encontrar as explicações para o insucesso ou comprovar o sucesso.

Os registos são importantíssimos, com eles saberemos ao pormenor as despesas, os rendimentos, as linhagens etc.
Muitas vezes, as aves deixam a postura, os ovos não eclodem, os filhotes morrem em idades diferentes e por motivos diferentes, não sabemos quem é filho de quem, que produtos usamos neste ou naquele pássaro etc.

Ficamos perdidos, tentamos várias soluções, sem encontrar a melhor, resolvemos mudar tudo ou mesmo trocar os progenitores. Nessa hora esquecemos os bons casais que temos e o quanto custaram a conseguir. Se houvesse registos confiáveis, com uma análise cuidada e racional poderia-se chegar a possível ou possíveis causas do insucesso ou problemas surgidos.

Mesmo assim encontramos muitos criadores que dizem ter casais a produzir 4/5 filhotes por ninhada. Mas se lhe perguntamos, qual a média de filhotes anual por casal ou do plantel, eles simplesmente não sabem ou atiram com qualquer número.

É possível que até tenham no plantel casais velhos ou doentes ou mesmo sofrendo de infertilidade, que há muito não põe um ovo sequer, e se põem não eclodem. E quantos casais existirão que produzem um ou dois filhotes por ninhada?
O que obtém o criador com um plantel assim?

  • Financeiramente: prejuízo
  • Emocionalmente: frustração
  • Em relação aos outros criadores: sentimento de inferioridade, e atrasos devido ao sucesso dos companheiros.

Muitas vezes questionam-se: “porque é ele que consegue e eu não?”


Os registros

Falamos então dos registos, eles que são elemento fundamental para o sucesso nas criações, sendo feitos de maneira precisa. São eles que ajudam o criador a ter o registo correto da trilogia da saúde que levará ao sucesso: alimentação, património genético e todos os aspectos do ambiente que circundam os casais e filhotes. Sem anotações não se pode fundamentar qualquer decisão séria e racional.

Serão eles também que nos vão dar o registo preciso das descendências e linhagens. Os rendimentos por casal e do plantel. Em resumo, com os registos, teremos tudo gravado do que se passou durante a época.

As dificuldades

 Por incrível que pareça, fazer o registo dum plantel, é uma actividade muito difícil e ignorada pelos criadores, tendo as seguintes razões ou causas básicas inter-relacionadas entre si:

  • preguiça: descrédito (interrogando-se, se será mesmo uma atividade recompensadora)
  • falta de material ou lugar para as anotações
  • desconhecimento (para muitos a mais previsível)

Assim acontecendo, uma coisa reforça a outra, tornando o criador incapaz passando a vida a achar que isso não “paga o trabalho”. Não embarca nessa onda do progresso, porque não pode raciocinar sobre dados que não tem. Não pensa de maneira cientifica.

Aqueles que convencidos da importância do processo, dominam a preguiça, ultrapassam as barreiras, e passam a ter meio caminho andado para a eficiência na criação, e os resultados vão ser o testemunho do sucesso e a recompensa do esforço.

Onde e o que registrar

Podemos utilizar apenas umas folhas de papel ou um simples caderno: hoje já existem programas informáticos para o efeito, aqui temos a melhor solução, mas não ao alcance de todos.

O melhor caminho é optar por um dos processos, mais simples de registar e consultar.
O que devemos registar? Essencialmente deve-se anotar os registos básicos numa criação, estes em traços gerais são: o casal, os filhotes, linhagens, esquemas de cruzamento, manejo sanitário, despesas com alimentação, equipamentos e outras, e pequenas notas de situações pontuais verificadas.

Cada criador elabora aquela ficha que mais lhe interessa, pois vários modelos existem.

Devem ser feitas todas as anotações no momento que ocorrem: a postura, os nascimentos, mortes (a causa provável), a troca de ovos e filhotes de pais, tratamentos individuais etc. Outros semanalmente ou mensalmente como aquisição de alimento ou equipamento, tratamentos coletivos, medida e cor dos ovos etc.

Consulta e trabalho com os registros

Em períodos que podem ser semanal, mensal, semestral ou mesmo anualmente, o criador pode fazer consultas com levantamentos de dados obtendo o balanço da situação.
Por essa altura alguns dados interessam sobremaneira:

  • qual o número de filhotes desmamados?
  • qual o número de filhotes nascidos?
  • embriões mortos?
  • número de ovos sem eclodir?
  • qual a média de filhotes por casal?
  • qual o número de casais sem produzir e quais?
  • qual o consumo de alimento por ave?
  • qual o custo de manutenção por casal?
  • o custo por cada filhote?
  • os resultados dos tratamentos?

Todos estes dados obtidos irão facilitar as análises que identificarão tendências, surpreenderão fatos até mesmo antes de acontecerem e teremos a satisfação do sucesso. Mas como importância maior, temos o aparecimento de respostas concretas para aquelas questões mais simples:

  • a criação de aves está a correr bem ou não?
  • a criação teve bons resultados ou maus?
  • que modificações há a fazer?
  • o que tem que ser melhorado?

Isto em linhas gerais é o que nos permite estabelecer os níveis mínimos de qualidade e produtividade que desejamos atingir na criação. Sem isto, ficamos a brincar ao “faz de conta”, a tendência de muitos que deve ser abolida para dar lugar ao criador moderno que tenha um crescente de qualidade no seu plantel ganhando competitividade no cenário ornitófilo nacional e mundial.

Espero com estas modestas linhas, ter pelo menos alertado os menos atentos e os mais preguiçosos, para a importância deste tema, fazendo com que se elevem os números de quantidade, qualidade e competitividade da ornitofilia portuguesa.

A todos um bom ano de criações que agora começa e para aqueles que vão participar no nosso mundial (que todos esperamos ser um sucesso, eu pelo menos tenho a certeza e sei que vai ser um orgulho para todos nós Portugueses), a maior sorte do mundo e que atinjam os objectivos pretendidos.

Revista Pássaros – Ano 6 – nº 29

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Muda dos canários


Embora sejam muito resistentes, as penas com o tempo começam a perder o brilho e desgastar e precisam ser trocadas.

A muda é um processo normal na vida das aves, relacionado a fatores biológicos ligados aos hormônios produzidos pela tireóide.

A muda ocorre todos os anos e inicia-se após a época de cria, (năo deve permitir que procriem até a época em que antecede a muda). Se o pássaro foi bem alimentado irá mudar facilmente e năo passará de 6 a 8 semanas. Nesta época a ave pode perder totalmente as penas ao mesmo tempo, mantendo sempre uma razoável quantidade para cobrir e proteger o corpo e voar.

Se a temperatura estiver elevada muito quente irá antecipar a muda do canário, mas terminará mais cedo. Em climas moderado e frescos ela atrasa um pouco.

É recomendado fornecer ao pássaro a dieta correta para esta ocasiăo, uma alimentaçăo rica em cálcio (osso de ciba), casca de ovo, vegetais, uma mistura de grăos com maior quantidade de óleo e uma farinhada com ovo. Na água de beber será trocada diariamente e poderá acrescentar algumas gotas de complexos vitamínicos que contenha ferro.

Nos adultos a troca de pena: rabo, asas, e demais penas inicia-se do centro para as extremidades, nas asas a muda ocorre simultaneamente, no corpo ocorre a muda quase por inteiro, terminando na cabeça.

As penas caem naturalmente e devagar sendo que quase nem se percebe que o pássaro está na muda; se o pássaro voar com dificuldades, começar a aparecer a pele isto năo é normal, e pode ter sido causado pela má alimentação ou outras causas.

Banhos de sol pela manhã (8 as 9 horas) ajudam bastante na muda, manter as gaiolas limpas, evitando que o pássaro fique em correntes de ar, fornecer banheiras com água limpa para banhos.
       
A muda dos filhotes

Os filhotes nascem pelados com uma finíssima plumagem, e aos poucos văo aparecendo as penas e quando saem do ninho já estăo empenados por inteiro. Os filhotes também mudam de pena em torno do terceiro ao quarto męs de vida, o que chamamos de muda de ninho, que é, o pássaro apenas muda as penas do peito e cabeça, as penas das asas e rabo só mudaram no próximo ano.

Mudas precoces

As mudas precoces săo consideradas aquelas em que as penas săo trocadas fora da sua época normal: bruscas mudanças de ambiente, temperatura, sustos, acordar as aves durante o seu sono e entre outros fatores, săo causadores de uma muda precoce. Um pássaro nestas condiçőes é um pássaro triste e sempre esta encorujado (embolado), o pássaro năo canta.

Devemos trata-los muito bem, administrando algumas vitaminas para tal e evitar o máximo em incomodar as aves.

Leonardo Monteiro (juiz OBJO) 
Revista SOBC 98


É importante entendermos esse período que ocorre na vida de nossos pássaros, já que esse é o período em que as aves ficam mais debilitadas, perdem resistência e energia, por isso convém aos criadores dar-lhes atençăo especial, através de uma boa alimentação e protege-los do frio, em especial evitar as correntes de ar. Com esses cuidados básicos os pássaros estarão sempre sadios e năo terăo problemas físicos quando chegar a época da reprodução.
A muda ocorre por um processo normal, diretamente relacionada a fatores biológicos associados aos hormônios produzidos na tireoide. Ela é necessária porque as penas, embora muito resistentes, começam a se desgastar com o tempo e acabam sendo substituídas por penas novas. 
O processo de muda é sempre posterior ao período de reprodução. Mesmo durante a muda os pássaros năo perdem todas as penas ao mesmo tempo, mantendo sempre uma quantidade razoável de penas para protegê-los do frio e possibilitá-los de voar.
A muda das asas, por onde em geral começa o processo, é simultânea, trocando as penas primárias na seqüência de dentro para fora e as secundárias de fora para dentro. Essa ordem pode variar, com a muda ocorrendo nos dois sentidos ou na ordem contrária. Com relação às outras penas do corpo elas săo trocadas da parte traseira em direção à cabeça e as penas da cauda săo trocadas do centro para as extremidades. 
Os filhotes na sua maioria nascem praticamente pelados, coberto apenas por uma finíssima plumagem, mas quando saem do ninho já estão quase que na sua totalidade empenados. Esses filhotes fazem uma muda por volta de três ou quatro meses de vida, mas só a muda que ocorre por volta de um ano de idade os deixam com a plumagem de pássaros adulto.
Lembramos que as penas não nascem na época da muda, caso o pássaro perca uma pena ou o criador a retire ela será reposta imediatamente. 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Canários - Como iniciar uma criação


Embora teoricamente possa parecer extremamente fácil montar uma criação de canários não é o que ocorre na prática.

A decisão de inciar a criação não pode estar amparada apenas em cima de alegação de que "gosto muito do canto dos canários belgas e rollers".

Antes de se decidir pela montagem de um plantel é necessário refletir sobre certos aspectos como por exemplo:

  • Disponibilidade financeira
  • Disponibilidade de tempo
  • Disponibilidade de local
  • Aceitação familiar;
  • Disponibilidade para leituras técnicas;
  • Possibilidades de intercâmbio.

Há pessoas que mantêm um ou dois casais de canários pendurados em qualquer canto da casa e que acabam por obter alguns filhotes. Mas não é disso que estamos falando. Na realidade, o que pretendemos é comentar os vários aspectos da montagem e desenvolvimento de um plantel, dentro de critérios técnicos mínimos que permitam ao criador entrosar-se no meio ornitológico e até mesmo se tornar um campeão.
Tomada a decisão de se iniciar uma criação vejamos o que deve ser considerado.

1.A escolha da variedade ou raça do canário 

Os canários atualmente estão distribuídos em:

  • Canários de cor, com ou sem fator vermelho;
  • Canários de porte e desenho;
  • Canários de canto clássico.

É desejável que o pretenso iniciante visite uma exposição onde possa observar e ouvir (no caso dos canários de canto) todas as variedades, nos concursos regionais. De qualquer modo já é um bom princípio visitar uma exposição local ou regional.
Entre os canários de cor a opção mais fácil recai sobre os canários sem fator (brancos, amarelos) que dispensam a administração diária do suplemento corante (cataxantina) para manifesta toda a plenitude de suas cores.

A administração da cataxantina além de onerosa é trabalhosa e mesmo criadores experientes costumam ter problemas com sua administração.

Aconselhamos, portanto, que os principiantes iniciem com brancos e amarelos até mesmo com pássaros da linha escura sem fator.

Aqueles que optarem pelos canários de porte e de desenho (lizards) deverão decidir por uma ou duas raças, no máximo. Os ingleses, tradicionais criadores das raças de porte e desenho, são quase sempre especialistas em uma determinada raça border, norwich, yorkshire, gloster, fife-fancy, etc.

Aqui, ao contrário dos canários de cor cada raça apresenta características próprias que deverão ser observadas e trabalhadas.

Com relação aos canários de canto-clássico é necessário ser dotado de um certo dom musical ou será completa perda de tempo e dinheiro. Estes pássaros são avaliados pelas notas ou conjuntos de notas musicais que emitem. Exigem muita paciência e tempo para ouvi-los e selecionar os melhores cantores. Definido o que criar vamos adiante.

2. Quantidade e local 

São os fatores fundamentais de decisão. A quantidade depende necessariamente do local que se predente acomodá-los. E mesmo que o local permita não se deve iniciar com um grande número de casais.

Diriamos que o número ideal de casais para iniciar uma criação é de no máximo 10 (dez), alguns podem achar muito e outros muito pouco.

Para esclarecer alguns aspectos da quantidade montamos a tabela 1, que representa aproximadamente o que em média ocorre na prática. É evidente que em função de muitas variáveis tais dados podem ser bastante alterados.

Com respeito ao local o ideal é que seja especificamente destinado à criação; bem iluminado, voltado para a nascente, com janelas amplas e teladas (pernilongos são inimigos mortais dos canários). Cômodos úmidos e frios são sinônimo de insucesso. A iluminação, pode ser controlada artificialmente desde que tecnicamente bem orientada (lâmpadas especiais e TIMER’S).

É importante lembrar que o local deve ser suficiente para acomodar os futuros filhotes e que as voadeiras geralmente em conjunto de três ou quatro não acomodam mais do que 15 – 20 filhotes cada.

Deve estar previsto, ainda, que o local ou criadouro de acesso à área ou pátio onde os pássaros possam ser expostos ao sol (banho e sol são fundamentais para desenvolver a plumagem). Recomenda-se não esquecer os pássaros ao relento quanto o tempo estiver nublado ou na existência de ventos, pois as correntes de ar podem causar sérios problemas respiratórios levando ao óbito.

Outro aspecto que deve ser observado é quanto à forração e vedação do criadouro. Insetos e roedores (camundongos) são extremamente indesejáveis. Seus dejetos podem transmitir doenças e sua presença principalmente, à noite pode causar verdadeiro caos na criação.

3. Gaiolas, acessórios e utensílios 

A gaiola ideal para a criação de canários deve possuir dimensões aproximadas de 60x40x30 cm, divisória central, laterais removiveis, bandeja, duas portas de mola e duas portas-guilhotina.

É perfeitamente possivel criar com qualquer outro tipo de gaiola, mas o criador irá descobrindo pouco a pouco a necessidade de se adequar ao modelo ideal.

A padronização é outro elemento fundamental, pois o que serve em uma serve na outra. Assim pode-se facilitar o corte de papel para forrar a bandeja sem a preocupação de tamanhos diferentes.

Manter grades e poleiros em duplicata, também é norma habitual e facilita a troca sempre que necessário.

Evite comprar um artigo pior somente porque é mais barato. Você poderá sentir na pele os efeitos de tal compra: uma aresta mal lixada pode causar escoriações ou mesmo verdadeiros cortes na pele.

É necessário, ainda, manter um determinado número de gaiolas individuais de modo a permitir o preparo de alguns exemplares para concurso e, eventualmente, separar algum pássaro por qualquer outra razão: doença, debicagem, observação, etc.

Entre os acessórios e utensílios existentes no comércio vamos nos ater aos que são imprescindíveis na criação de canários.

Os comedouros e bebedouros utilizados pela grande maioria dos criadores são do tipo externo, em plástico, com cúpula destacável em forma de meia lua.

Os de cúpula fixa não permitem uma boa limpeza e/ou desinfecção, não sendo recomendados. Considerando que a gaiola de cria ideal deve possuir 6 suportes externos recomenda-se distribuir 2 comedouros e um bebedouro de cada lado da divisória colocar água e comida dos dois lados evita que se percam pássaros, inadvertidamente, por sede ou fome, quando se esquece uma divisória central.

Tigelas de louça ou PVC são utilizadas para oferecer a farinhada de ovos, diariamente. Toma-se o cuidado de retirá-las ao final do dia, desprezar as sobras e lavá-las adequadamente.

Banheiras de plástico ou chapa galvanizada são apropriadas para o banho. A freqüência que se oferece depende da temperatura ambiente e das fases da criação, sendo muito comum propiciá-lo às vésperas da eclosão dos ovos para facilitá-la caso a umidade relativa do ar seja baixa.

Os ninhos mais frequentemente utilizados são os de pássaros podendo ser revestidos com espuma (1 cm de espessura), flanela, feltro ou corda de bacalhau (cizal). Sacos de estopa, previamente lavados e fervidos, cortados em pedaços de 5x5 cm e desfiados, são oferecidos para a "confecção dos ninhos".

4. Constituição do plantel 

Esta é sem dúvida alguma, a etapa crucial de todo o processo podendo respresentar o sucesso ou o completo fracasso.

Nesta etapa não basta gostar. É preciso humildade e contar com a participação efetiva de algum criador recomendado ou pelo menos idôneo e conhecer.

A escolha dos reprodutores não é tarefa fácil mesmo quando se tem possibilidade financeira.

Os criadores, via de regra, não cedem seus melhores pássaros mesmo a "peso de ouro". É mais fácil conseguir um bom exemplar por amizade do que por outro método.

Associar-se a um clube ornitológico e solicitar a ajuda do diretor técnico pode ser um bom princípio.

Quando da aquisição dos pássaros dirija-se pessoalmente ao criador acompanhado de um "expert" evitando, sempre que possível, comprar pássaros por telefone. Evidentemente, existem situações que não permitem esta conduta, como no caso de criadores que residem em estados distantes dos principais centros. Neste caso dirifa-se sempre a um criador recomendado para fazer a encomenda.

Ao escolher os exemplares é importante observar os seguintes ítens.

  • Condições higiênicas do criadouro;
  • Estado de saúde do plantel, como um todo;
  • Média de problemas durante a estação de cria;
  • Média de filhotes obtidas pelo criador;
  • Vivacidade do exemplar a ser adquirido (pássaros quietos, embolados denotam problemas);
  • Conferir os dados do anel, principalmente do ano de criação;
  • Pegar o pássaro na mão e verificar seu estado de saúde (cor da barriga ou ventre, presença de cistos de plumagem, sentir seu peso e mobilidade);
  • Observar forro da gaiola e verificar a consistência das fezes (se diarréica ou normais);
  • Levar os pássaros ao ouvido e tentar detectar se está chiando (os acometidos de ácaros e outros problemas respiratórios geralmente chiam);
  • Observar quanto a existência de trocas de penas.

5. Onde e de quem adquirir 

Em nosso pais existem inúmeros criadores espalhados em cidades de vários estados. De uma maneira geral se congregam em clubes ou associações onde podem obter informações técnicas, adquirir anéis oficiais e trocar relacionamento com outros criadores. Os clubes por sua vez podem estar vinculados a Federações Estaduais como por exemplo no Rio Grande do Sul ou diretamente à Federação Ornitológica do Brasil (FOB).

A FOB edita o "VADE-MECUM" onde pode ser encontrado o endereço dos clubes filiados e de todos os criadores a eles registrados.

O endereço da FOB é Av. Francisco Matarazzo, 455 Parque Água Branca Caixa Postal 61131 CEP 05071-970 São Paulo-SP.

Dentre os criadores existem aqueles que anualmente participam de competições e mesmo alguns profissionais que criam estritamente para venda.

Aconselhamos visitar o maior número possível de criadores antes de decidir pela compra, pois há variações absurdas de qualidade e preço.

Estes podem variar de criador para criador, de cidade para cidade e de estado para estado para um mesmo exemplar. Assim o preço de um bom exemplar BCOBRE INTENSO pode custar 50 US$ no criador X e 100 US$ no criador Y. Isto depende em parte de sua "fama" e de onde se localize, sendo que os pássaros no eixo Rio-São Paulo tendem a custar mais caro do que em outras regiões do país, mesmo porque a maioria de criadores renomados ai residem.

Importar não é a melhor solução para o iniciante, trabalhar com pássaros filhos de importados, já adaptados ao nosso clima pode evitar uma série de desilusões e mesmo prejuízo financeiro. Deixe a importação para uma Segunda etapa.

As exposições regionais são, também, um ótimo local para as primeiras aquisições. Permitem que o futuro criador possa avaliar a qualidade, conhecer as diferentes raças e, via de regra, os pássaros em concurso são saudáveis. Lembre-se que nem sempre o campeão será o melhor reprodutor. Pássaros classificados em 20 e 30 lugares são uma boa opção.

6. Acasalamento 

Os criadores "antigos" jamais acasalavam seus pássaros antes da primavera (21/09) e até hoje os criadores de frisados parisienses mantêm esta tradição.

Por outro lado os criadores de canários de cor podem acasalar tão cedo em ABRIL sob alegação de que os pássaros já estão "prontos".

Em nosso país o período mais apropriado para a criação se estende de JULHO a DEZEMBRO. Começar um pouco antes ou terminar um pouco depois não traz modificações importantes.

Os casais devem ser formados obedecendo critérios de acasalamento e aqui a genética traz importante contribuição, podendo afirmar-se que é fundamental, no desenvolvimento de um plantel.

Não cabe aqui descrever os acasalamentos corretos pois as variedades de cores, mutações combinadas, passam de 350.

Aconselhamos a leitura do Manual Técnico da OBJO que pode ser obtodo na Ordem Brasileira de Juizes de Ornitologia (OBJO) (veja endereço para contato na págima LITERATURA desta home page).

Recomenda-se que durante o período de cria as laterais das gaiolas sejam vedadas evitando que um casal interfira com o outro.

Ao se iniciar a formação dos casais certifique-se de que o macho esteja cantando vigorosamente e de que a fêmea esteja "pronta". Isto evitará posturas de ovos não fertilizados e perdas de tempo.

É boa norma colocar-se primeiro na gaiola a fêmea oferecendo-lhe material para confecção do ninho. Se não demosntrar interesse nem pelo material e nem pelo ninho, provavelmente não está preparada para criação. Caso contrário coloca-se o macho após 2, 3 dias observando o comportamento do casal. As brigas não são raras e se freqüentes é melhor separá-los colocando a divisória. Alguns casais não se adaptam definitivamente sendo necessário a troca de um dos dois.

As bigamias e poligamias são procedimentos não aconselhado aos que iniciam na canaricultura, alum de Tudor demandam maior possibilidade de tempo para se observar o comportamento dos canários.

7. Postura 

Geralmente, sucede 6 – 10 dias após o acasalamento quando so parceiros estão prontos. Também, pode ocorrer mesmo que o macho esteja inapto e neste caso ao verificar os ovos quanto à fertilização, por volta do 60 dia, obviamente estarão claros.

Como regra geral as fêmeas põem 3 –4 ovos, em média, podendo variar de 2 a 8 ovos por postura. A medida que os ovos são postos devem ser retirados e susbstituídos por "ovos indez"( ovos plásticos) devendo ser recolocados ao final da postura. Um pequeno recepiente em plástico, louça ou até mesmo uma lata de sardinha contendo mistura de sementes, ou algodão, servirá para a acondicionar os ovos recolhidos e que devem ser virados diariamente, evitando que a gema se "precipite". A finalidade de tal procedimento é simplesmente permitir que a eclosão ocorra simultaneamente, evitando discrepância de desenvolvimento entre os filhotes. Geralmente, os nascidos por último morrem, quando não se utiliza tal conduta.

Algumas fêmeas teimam em não realizar postura no ninho e é sempre uma surpresa desagradável recolher ovos quebrados no fundo da gaiola. Em alguns casos a mudança de local do ninho pode resolver e se isto não ocorrer recomenda-se remover a grade e forrar a bandeja com areia ou jornal, em várias camadas. Outras fêmeas (às vezes, são os machos) tem o péssimo hábito de comer os ovos. Nesses casos recomenda-se reforçar o cálcio administrando osso de CIBA e furar o centro do ninho de modo que o ovo ao ser posto caia num pequeno saco fixado por baixo daquele. Este saco poderá ser confeccionado com a ponta de uma meia.

Outros problemas e soluções o criador irá descobrindo com o passar do tempo.

8. Incubação 

O período de incubação dura 13 dias, contados à partir da data em que os ovos são recolocados no ninho. Podem ocorrer atrasos de 1 ou 2 dias quando as fêmeas não são assíduas ao ninho. Os ovos são incubados exclusivamente pelas fêmeas, que deixam o ninho por breves períodos com a finalidade de se alimentarem e mesmo para defecar. Alguns machos costumam substituí-las nesse espaço de tempo.

Verificar se os ovos forem fertilizados é tarefa simples e pode ser realizada de várias maneiras: olhar os ovos contra a luz do sol, ou com lanterna, fazendo com que o facho de luz atravesse o ovo, ou ainda, utilizar uma pequena caixa dotada de lâmpada no seu interior e furo suficiente para receber o ovo para inspeção. Ao acender a lâmpada verifica-se pro transparência o conteúdo do ovo. Por volta do 6º dia já se percebe a mancha avermelhada contendo vasos no seu interior e que ocupa quase a metade do ovo. Caso se perceba apenas a presença da gema, diz-se que o ovo está "branco".

Quando, por qualquer razão, o criador deixa a inspeção para mais tarde – 11º - 12º dia – já encontrará um ovo totalmente opaco e que não permitirá a passagem de luz. Sua casca apresentará brilho e a superfície mais lisa ao tato.

Retirar os ovos não fecundados é boa praxe. Se ocorrer de todos estarem brancos retira-se inclusive o ninho por 3 – 4 dias de modo a incentivar que a fêmea faça nova postura.

Em regiões onde a umidade do ar é alta (70 a 90%) não há necessidade de molhar os ovos ou de se oferecer banho às fêmeas. No entanto, em locais secos como por exemplo: Brasília, o banho é fundamental para aumentar o índice de eclosão.


9. Eclosão. 

Completados 13 dias de incubação, os filhotes começam a nascer: um após o outro ou todos ao mesmo tempo. É comum que o nascimento ocorra à noite e pela manhã já se encontram todos os filhotes no ninho.

Se o período de 13 dias for superado aguarde mais um dia ou, então faça o teste de vitalidade do embrião. Para tal, basta colocar os ovos num recipiente com água morna e observar quanto à flutuação e movimentos. Ovos com embriões vivos flutuam com a ponta para baixo e exibem pequenos movimentos enquanto aqueles com embriões mortos flutuam de lado, ou não vêm à tona, e nem possuem movimentação.


10. Desenvolvimento até o Sétimo Dia

Quando o desenvolvimento se faz normalmente, os filhotes exibem a penugem solta e fofa como um chumaço de algodão. Também estão sempre de "papo" cheio e ao menor movimento do ninho, mostram-se ativos e abrem o bico solicitando comida.

Se isto não ocorre, algum problema está acontecendo: ou estão mal alimentados ou já apresentam comprometimento de sua saúde. As fêmeas que exibem a plumagem do ventre molhada demonstram que s filhotes estão com diarréia.

Não se justifica molestar as fêmeas para que saiam do ninho com freqüência, pois poderá ocorrer até mesmo o abandono da ninhada. Procure inspecionar o ninho quando as fêmeas saem para se alimentar.

Uma causa frequente de falta de desenvolvimento são so "vermelhinhos"(piolhos). Os filhotes ficam fracos, pálidos e terminam por morrer mesmo de papo cheio.

Quando tudo corre bem, aos 7 dias de vida os filhotes já exibem os primeiros cartuchos de penas e olhos abertos.

11. Anilhamento ou Anelamento. 

Embora não seja uma prática universal, pois os ingleses não anelam algums raças de porte e mesmo assim realizam concursos de pássaros desprovidos de anilhas, o anilhamento é a modalidade mais prática para registrar qualquer ave. O anel, ou anilha, quando do tipo fechado e de diâmetro compatível com a ave, garante a legitimidade da sua criação em cativeiro e permite que o criador possa participar dos concursos oficiais. Em nosso país é obrigatório o anelamento para qualquer pássaro de concurso.

Os anéis de cunho oficial são obtidos através de clubes registrados na FOB, a quem cabe o direito de distribuição exclusiva para seus filiados.

Tais anéis são fornecidos com diâmetros variáveis de acordo com o porte da ave que se pretende criar. Para os canários de cor o diâmetro atual é de 3mm.

O anel traz gravado o número de sócio, a sigla do clube ao qual pertence, a sigla FOB, o número do próprio exemplar e o ano da criação.

Colocado por volta do 7 dia, obedecendo à seguinte técnica passam-se primeiro os 3 dedos dianteiros e dobrando-se o posterior de encontro ao tarso (perna) prossegue-se com o anel até que se consiga puxar o dedo para frente, deixando livre o anel. Uma vez anelado e após o crescimento da ave, não será possível retirá-lo a não ser cortando-o. Também, não será possível anelar uma ave adulta sem adulterar o anel (alargando-o ou usando anel de diâmetro superior indicado).

12. Separação dos filhotes 

Entre o 15 e 20 dias os filhotes começam a deixar o ninho. A saída prematura é indesejável e representa algum tipo de problema: o menor deles é quando o filhote se assusta e salta fora do ninho.

Recomenda-se não trocar o ninho após o 12 dia. Filhotes quando mal nutridos tendem a sair precocemente do ninho em busca de alimentação (atrás dos pais). Nestes casos não há muito o que fazer e tentar recolocá-los de volta é perda de tempo.

Por outro lado, os bens criados, deixam o ninho de modo tranqüilo, completamente emplumados e sem mostrar desespero por alimentação.

Esta fase costuma ser crucial para o futuro dos pretensos "Campeões". Acontece que, de um modo geral, tende a ocorrer a debicagem dos filhotes. Algumas fêmeas deixam completamente desnudos seus filhos o que representa uma tragédia para o futuro: dificilmente se formará uma plumagem normal.

Ao se perceber os primeiros sinais de debicagem o criador deve interferir seja separando os filhotes com uma grade divisória, seja fornecendo material para confecção do novo ninho. Sugerimos que os filhotes passem a metade do dia com o macho e a outra metade sozinhos. Colocando-se a farinhada de ambos os lados tanto a fêmea quanto o macho tratarão dos filhotes e, ainda estaremos proporcionando a oportunidade para que o macho fertilize, quando estiverem juntos.

Quando os filhotes estiverem comendo sozinhos é chegada a hora da separação. Geralmente, ocorre entre o 28 e 30 dias. Separados deverão ser colocados em uma voadeira de modo que possam se exercitar e serem levados para os "banhos" de sol e água.


13. Recomendações complementares

A separação dos filhotes precocemente pode causar a sua morte prematura. Certifique-se de que estejam se alimentando sozinhos, observando seu comportamento com relação à água, sementes e farinhada. Quando solicitam insistentemente aos pais para que os alimentem é sinal de que, são dependentes.

Ao separar os filhotes procure não colocá-los juntos com pássaros de idades muito diferentes sugerimos que essa diferença não seja superior a 20 dias. É uma questão de competição e os mais velhos sempre levam a melhor.

A higienização do material: poleiros, grades, bandeja e do próprio cômodo deve ser executada periodicamente a fim de evitar a propagação de doenças. Recomendamos a leitura de artigos exclusivos a este fim.

A prevenção do desenvolvimento de ácaros, piolhos tipo "vermelhinhos" e insetos dentro do criadouro é fundamental e pode ser realizada de várias maneiras. A quarentena é a melhor maneira de se evitar problemas futuros. Recomendamos 30 dias de observação do exemplar antes do introduzi-lo no plantel.

As "VAPONAS" parasiticidas e repelentes de insetos são produtos eficazes no combate aos insetos, ácaros e outros parasitas. Não são encontrados em nosso meio, porém os que puderem adquiri-los no exterior Não deixem de fazê-lo. Tem durabilidade de 2 a 3 meses.

Pulverizar com Protecotr ou SBP, faixa azul, também, ajuda na prevenção.

Verduras tipo couve, almeirão, jiló são muito úteis como complemento alimentar. Usá-las com parcimônia e levar em conta que um canário pesa por volta de 10 a 15 gramas, não deve comer uma folha inteira de couve ou almeirão.

Padronize sua alimentação e desde que esteja dando certo não mude. Existem milhares de fórmulas de farinhadas. Você acabará adotando a sua própria de acordo com suas conveniências.

No mais, sucesso na nossa criação!!
Mauro de Queiróz
Extraído Revista SOAM 1995

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Formação de uma nova linhagem


Até nos melhores pássaros, existem caracteres que mesmo presentes no seu patrimônio hereditário, não podem ou essas boas qualidades não são transmitidos aos filhos, ou por serem, esses pássaros, heterozigotos ou por serem recessivos se apresentam dominados por outros caracteres. Nem mesmo o fato de ser um campeão, vencedor de muitos torneios, o qualifica como reprodutor. Tendo sido produto de acasalamentos “abertos” (mesmo que bom x bom) seu patrimônio genético é impuro para aquelas qualidades que, por pura obra do acaso, fazem dele um campeão. Levado à reprodução poderá gerar filhos de todos os tipos. Sendo este um estudo pioneiro, poderá sofrer correções, adaptações e mudanças ao longo do tempo, tendo em vista os resultados, com certeza positivos, que passaremos a obter a partir desta publicação.

A partir de agora seremos mais que criadores: seremos selecionadores. Vamos formar o nosso raçador e o nosso Plantel. No entendimento das leis de Mendel, o pai da genética, é fácil constatar que um reprodutor que possua caracteres dominantes em dose dupla, ou Homozigoze, os transmitirá, obrigatoriamente a seus descendentes. Se um Reprodutor for homozigoto ele produzirá apenas os genes que nós selecionamos e seu descendente que recebe esse gene dominante exteriorizará apenas o efeito desse gene. O ponto inicial, portanto, é a formação de um reprodutor homozigótico, aquele cujo zigoto é formado por gametas que conduzem os mesmos genes, portadores de um mesmo caracter. “Genética é o ramo da biologia que estuda a transmissão das características físicas e biológicas de uma geração para a seguinte”. “Não se pode precisar se as qualidades que buscamos em nossos pássaros canoros nativos (canto, extensão de canto, fibra, etc) são transmitidas por um só gene ou por um conjunto ou combinação de genes” (Paulo Flecha – ornitólogo e pesquisador da fauna alada brasileira) A esse fenômeno genético, dá-se o nome de epistasia, ou seja saber se determinado caracter é transmitido por um gene ou uma combinação de genes. Neste caso, a prática de cruzamentos consangüíneos em linha direta, aumentam as probabilidades da sua repetição.

 

O Processo de Seleção

Os métodos de reprodução são diversos (consangüinidade, seleção, cruzamento, mestiçagem, hibridação) mas vamos nos ater à Seleção por Consangüinidade em Linha Direta, pratica comumente utilizada na apuração ou aperfeiçoamento de todos os animais criados pelo homem. “A consangüinidade não é prejudicial; pelo contrário, transmite conserva e melhora caracteres que se deseja conservar nos descendentes” (Cornevin). Se acasalamos um pássaro excepcional com uma de suas filhas as chances de produzir pássaros semelhantes ao reprodutor é muito maior pois esta sua filha (agora matriz 1) já possui metade (50%) de seus cromossomos, tornando mais fácil a reconstituição do patrimônio genético original. No próximo cruzamento, com a matriz 2, maiores serão as chances por esta matriz já possuir 3/4 (75%) do patrimônio. E assim, sucessivamente. 

O Estabelecimento de Critérios Iniciais

O estabelecimento da Formação de Uma Nova Linhagem, implica, em uma primeira fase, na eleição dos Fundadores desta nova linhagem com as qualidades que entendemos como sendo as ideais para os indivíduos dessa nossa nova linhagem que estamos nos preparando a formar.Então vamos às
Regras Básicas:
  1. Saúde : básica para qualquer que sejam nossos objetivos de qualidades;
  2. Integridade física : Os fundadores deverão ser férteis, íntegros, sãos. Sem penas defeituosas, bico torto, asas caídas, pés tortos, etc...(não devem ser considerados os defeitos adquiridos por acidentes);
  3. Seleção rigorosa do Fundador com Excepcionais qualidades de canto (repetição) ou fibra;
  4. Vivacidade, Disposição, Alegria, Constância, etc.
  5. Nas Fêmeas Iniciais, além das qualidades acima (onde seja possível enquadra-las) devem ser avaliadas a capacidade de produção (número de ovos por ninhada) e qualidades maternas (choco, alimentação dos filhotes, etc.)
  6. O Macho Inicial deverá ser o melhor que se possa adquirir. Algumas coisas poderão ser melhoradas durante o processo de seleção, mas o plantel será basicamente cópia desse Macho Inicial.
  7. Evite um número muito grande de fêmeas. Importante considerar o tempo disponível.
  8. É indispensável uma seleção rigorosa dos produtos obtidos com a eliminação drástica dos que apresentarem defeitos, taras, doenças, etc. (mesmo que consideradas “menores”) Lembre-se: Defeitos também são transmitidos por via hereditária.
  9. Ter sempre presente o Objetivo a ser atingido. Não espere sucessos imediatos.
  10. A Formação de uma Nova Linhagem de Alta Performance exige Paciência e Perseverança. Os resultados compensarão o tempo despendido com a apresentação de um plantel onde a totalidade ou grande maioria apresentam as mesmas características.
  11. Tenha sempre presente seu Livro de Registro Genealógico. Todos os passos devem ser registrados.
  12. Após o terceiro cruzamento, os avanços são aparentemente pequenos, caso tenha dúvidas, não se acanhe em pedir ajuda a um amigo ou criador dotado de notória competência e sensibilidade, para ajuda-lo a selecionar os pássaros que continuarão no processo de formação do Reprodutor.
  13. É importante estabelecer o limite de “chocadas” para cada fêmea. Um número ótimo seria 3 por temporada. A partir daí a mãe pode estar enfraquecida pelo desgaste e fadiga e poderá produzir filhos fracos. É de se considerar também que esses filhotes (fêmeas), nascidas no início da temporada, poderão estar aptas à procriação na temporada seguinte. Nosso objetivo é Formar uma Linhagem e não obter um número ilimitado de filhotes.
  14. Todos os criadores já observaram que em ninhadas de 3 ou 4 filhotes, quase sempre encontra-se um que cresce mais rapidamente. Identifique esse filhote. Ainda existem fatores que não conseguimos traduzir ou encontrar explicações e esse privilegiado poderá ser o nosso “diferencial”. A primeira seleção começa no ninho.
  15. O Selecionador que tenha dúvidas de suas qualidades como criador, deverá buscar sua capacitação e atualização junto a outros consagrados criadores e especialmente ser assessorado por um veterinário competente. De nada adiantará todo um trabalho de seleção se não acompanhado por igual cuidados sanitários, alimentares e de higiene.

“Somente com a consangüinidade é possível obterem-se linhagens de alta genealogia, que produzem a cada ano campeões e raçadores e o melhoramento é crescente no tempo”. 
"A consangüinidade não é nada mais que um meio para se fazer evidenciar os caracteres – positivos e negativos – na posse de um determinado patrimônio hereditário de um indivíduo”
Giorgio di Baseggio renomado selecionador decanários de cor e autor dediversos trabalhos sobre seleção de pássaros.


O Programa

Estabelecido o Macho Inicial ou Macho Fundador, deverá ser acasalado com pelo menos 3 (três) Fêmeas Iniciais. Então teremos:

  • Primeiro Cruzamento
    Macho Inicial x Fêmea Inicial = F1 = 1/2
    Sangue ou ainda 50% dos genes do Macho e 50% dos genes da Fêmea.
     
  • Segundo Cruzamento
    Macho Inicial x Fêmea F1 = F2 = 3/4
    Sangue ou ainda 75% dos genes do Macho e 25% dos genes da Fêmea.
     
  • Terceiro Cruzamento
    Macho Inicial x Fêmea F2 = F3 = 7/8
    Sangue ou ainda 87,5% dos genes do Macho e 12,5% dos genes da Fêmea.
     
  • Quarto Cruzamento
    Macho Inicial x Fêmea F3 = F4 = 15/16
    Sangue ou ainda 93,75% dos genes do Macho e 6,25% dos genes da Fêmea.
     
  • Quinto Cruzamento
    Macho Inicial x Fêmea F4 = F5 = 31/32
    Sangue ou ainda 96,875% dos genes do Macho e 3,125% dos genes da Fêmea.


Considerações:
  1. No Quinto Cruzamento, o produto 31/32 de sangue do Macho Inicial, já é considerado puro por cruza. Praticamente Homozigótico, é o Reprodutor que queremos para a Formação de nosso Plantel.
  2. Até esse cruzamento é considerado seguro ou com pequenos riscos.
  3. Pode ser tentado mais um cruzamento, ou seja, o Sexto Cruzamento desta Linha Direta, o F6 = 63/64 de sangue do Macho Inicial, porém deve ser considerado se compensa:
    a) um aumento de possibilidade de riscos (diminuição de tamanho, saúde, taras, etc.);
    b) ganho de apenas mais 1,5625% a mais de sangue do Macho Inicial.

Nota 1: alguns autores entendem que o produto F4, que detém 15/16 de sangue do Macho Inicial já é considerado Puro por Cruza, enquanto que outros entendem ser o F6 (63/64 de sangue do Macho Inicial), outros vão muito além e exigem um F10 (1023/1024).

Nota 2: Muito embora esse esquema e programa tenha privilegiado o macho, pode também ser feito a partir da Fêmea, porém mais difícil (um macho pode fertilizar várias fêmeas por temporada) e de maior risco (entre dois filhos – irmãos de ninho – haverá um longo tempo de espera de definições para eleger qual dos irmãos será o padreador) e no caso da perda súbita da fêmea ou à sua inaptidão temporária para a procriação o programa estará paralisado.

Nota 3: Não cometa o erro de vender os melhores pássaros. Vendidos os melhores interrompe-se o processo. Mantenha no plantel sempre os melhores: Você está em processo de Formação de uma Nova Linhagem.

Nota 4: “O poder do “Raçador” é transmissível apenas naquelas qualidades e características concernentes à dominância” Stéphane Vansteelant – fonte revista Brasil Ornitológico

Nota 5: “Os genes variam de tamanho, desde algumas centenas até dois milhões de pares de bases de ADN; são os responsáveis pela transmissão dos caracteres hereditários, como a cor dos olhos, tipo de pêlo, orelhas, temperamento, canto, displasias, etc. Na realidade, os genes são a entidade funcional da informação”.(José Carlos Pereira–Passarinheiro e pesquisador-Cruzeiro-SP)

Parabéns! Até aqui você trabalhou num programa que objetivou a obtenção do Macho. A partir de agora ele passa a chamar-se Reprodutor. Será praticamente um clone do Macho Inicial que graças a homozigose será de "linhagem pura" para os caracteres selecionados, ou seja, conseguirá passar suas excepcionais qualidades nos futuros cruzamentos. Esse Raçador será o “Chefe do Plantel”. Por Raçador entende-se o pássaro nascido de acasalamentos previamente estabelecidos e cuidadosamente selecionado, que acumula valores raciais dominantes para determinados caracteres, capaz de transmitir e imprimir suas excelentes características a seus filhos. Mas, quais serão esses futuros cruzamentos que manterão a qualidade e a homogeneidade do plantel? No processo de formação deste Reprodutor, estaremos formando também um excelente plantel. Analisemos:

1 – Por que 3 (três) Fêmeas Iniciais?
a) Porque com pelo menos 3 fêmeas teremos condições de conseguirmos pelo menos 4 Fêmeas F1; o ideal, para segurança de execução do programa.
b) Após conseguidas as 4 (quatro) Fêmeas F1, as Fêmeas Iniciais poderão ser descartadas, ou conduzidas para outro programa, pois as F1 já passam a fazer parte de nosso programa de seleção;
c) Os machos F1, podem ser descartados ou utilizados em outro programa.

2 – Após a obtenção de pelo menos 4 (quatro) Fêmeas F2, as fêmeas F1 serão destinadas temporariamente para outro programa pois elas serão utilizadas para a produção do produto 5/8 (para a obtenção deste produto, poderá ser utilizado um dos primeiros machos F1, desde que tenha demonstrado excepcionais qualidades).
Obs.: Estudos em bovinos, comprovam que o produto que tenha 5/8 de sangue do Reprodutor Inicial, conseguem manter a homogeneidade de tipo e de qualidades. Ex.: Santa Gertrudes (5/8 Shorton + 3/8 Nelore); Pitangueiras (5/8 Red Polled + 3/8 Guzerá); Brangus( 5/8 Aberdeen + 3/8 Nelore); Canchim (5/8 Charolês + 3/8 Nelore); etc.

3 - Como formar o 5/8? O melhor Macho F2 (3/4) cruzado com a melhor Fêmea F1 (1/2) ou vice versa = 3/4 + 2/4 = 5/8

4 – Após conseguida a reprodução de pelo menos 4 fêmeas F3, os produtos F2 não utilizados na formação do 5/8 poderão ser descartados destinadas a outro programa.

5 – A partir do momento da obtenção do produto F3, o criador deverá redobrar a atenção e avaliação, pois todos os produtos já estarão ou deverão estar muito acima da média. A partir da obtenção do F2, poderá ser observado a semelhança entre os indivíduos. O curioso é que eventualmente os machos F2 (3/4) podem ser inferiores ou praticamente iguais aos F1 (1/2), tal fato explica-se pelo choque de sangue do cruzamento inicial, porém os F3, começarão a apresentar a homogeneidade no Genótipo.

6 – A partir da obtenção de 4 (quatro) fêmeas F4, as fêmeas F1 e F2, estarão praticamente descartadas ou destinadas a outro programa.

7 – Se, nesta etapa, por fatalidade, faltar o Macho Inicial, um de seus filhos F4 (o de melhor desempenho dentro da ótica de nosso objetivo) que já é 15/16 ou ainda detentor de 93,75% de sangue do Macho Inicial, poderá substituí-lo. Não cruzando com sua irmã de ninho, mas com as fêmeas 5/8, cujo produto será 20/24 ou 83,33% de sangue do Macho Inicial.

8 – Devem ser evitados os cruzamentos entre irmãos próprios F1 ou F2.

9 – Sobre a possibilidade e resultados do cruzamento do F5 de uma seleção com outro F5 de outra seleção não aparentado, transcrevemos:

“De outro modo o autor tem constatado que se acasalando duas aves, ambas criadas em consangüinidade, porém provenientes de dois criadouros diferentes, nos filhos explode a vitalidade, a fertilidade, o vigor em altos níveis. Isto, sempre, se não existirem genes incompatíveis entre a duas cepas consangüíneas. A mencionada explosão de vitalidade é devida essencialmente ao fato de que as duas aves provenham ambas de linhagens selecionadas em consangüinidade há anos, nos quais muitas taras hereditárias e muitos defeitos (esterilidade, plumagem disforme, posições erradas etc.) foram sendo descartadas, sem piedade” 
Giorgio de Baseggio - Bolonha, julho 1987 criador de canários de cor 24 anos de estudos sobre a consangüinidade - transcrito de AO - Atualidades Ornitológicas

Conclusão
O esquema aqui apresentado, propositadamente em curtos tópicos, de forma simples, tem por finalidade fazer ver ao criador de passeriformes canoros nativos que o processo seletivo por consangüinidade em linha direta é acessível a todos e nosso objetivo maior é despertar a curiosidade por maiores conhecimentos neste segmento. O principal é que a partir de agora, a Criação de Passeriformes Canoros Nativos, entra em nova e importante fase, a SELEÇÃO.